O "Rapto"

Já à umas semanas que tenho ido dormir a casa duma mulher casada, com o marido lá... E hoje, à traição, eles os dois levaram-me para Coimbra sem eu saber bem onde e ao que ia. Depois de pararmos em vários sítios (para me despistarem), e inclusivamente aliciarem-me com Pastéis de Tentúgal (aos quais corajosamente não cedi), dei por mim à porta daquela local cujo nome não posso pronunciar, mas começa por "Pri" e acaba com "mark" (nunca adivinharão qual é!). Aí o meu mundo desabou... Não tinha como fugir! Eles eram dois... E um tinha bigode! Não se brinca com um homem de bigode!

Depois do choque ainda lutei... Mas logo que caí na realidade e me apercebi de que nada podia fazer, parei... Recompus-me rapidamente e analisei todas as opções que tinha. E para grande mágoa minha a opção era só uma: Entrar! Estava escoltado afinal de contas... Depois de tantas e tantas vezes a passar ao largo daquele sítio, o destino acabou por se mostrar impiedoso... 

Cedi então. Engoli em seco, fechei os olhos e entrei! Arrastado pela mulher casada lá fui eu... Seu marido, ciente dos perigos do local, como não conhecia bem o terreno, optou por fazer o reconhecimento das zonas envolventes... 

Não me consegui conter e numa atitude de loucura virei-me para a mulher casada gritando:

"MÃÃÃE! ODEIO COMPRAR ROUPA!"

Ao que ela rapidamente retorquiu:

"Tu cala-te que tens as calças todas rotas! É uma vergonha!"

Rendi-me às evidências... De facto, com o calor que tem estado nem tenho desgostado das aragens que certos pormenores nas minhas calças me possibilitam... No entanto, as pessoas no geral nunca me trataram mal para eu me vingar delas desta forma e disponibilizar-lhes imagens do inferno.

Tive então que levantar o queixo e fazer-me homem! No entanto pensei:
"Mas Mãe?! Pri... mark?!" 

Mas depressa me apercebi que de facto, pelo amor que eu tenho a coisas daquelas, todo o dinheiro que eu ali (ou em qualquer outro sítio) gastaria seria sempre demais... Portanto mal por mal, ia logo ao sítio mais barato, caso contrário esquisito como sou de certo que me esperaria um Peddy-Roupas pelo Fórum Coimbra e isso definitivamente NÃO!

Minha Mãe, conhecendo-me de ginjeira, deixou-me só... Sabia que para eu trazer uma peça que fosse não poderia estar sujeito a pressão, e para tal só eu mais o meu (reduzido) sentido estético conseguiríamos a harmonia necessária para tão rebuscado objectivo.

Mas porra... Pri... Mark?! Harmonia é coisa que não padece lá dentro! Quando dou por mim estou envolto de uma confusão têxtil  e sonora tal, que ao fechar os olhos me senti no meio das tendas de roupa da feira da minha terra. Mas não! Era pior! Os molhes de roupa eram mais altos! Os preços eram mais baixos! Os corredores muito mais estreitos (o grande problema é quando nos temos que cruzar com outra pessoa do mesmo sexo nesses corredores... Snif)! As pessoas eram o dobro ou o triplo! E haviam lá muitos tendeiros (deviam andar à caça para fazer revenda). NÃO! SOCORRO! As pessoas atiravam as roupas ao ar como se estivessem a cavar terra... E os empregados a dobrá-las! Mas coitados... Não davam vazão :) Nem quero imaginar o festim de roupa por dobrar com que eles são presentiados todos os dias depois do fecho do estaminé! Aquilo parece a feira mas num sítio fechado, muito mais pequeno, com mais roupa, e mais gente! Uma feira compacta vá...

Pus-me então a escolher roupa! E hoje até aprendi a converter tamanhos britânicos para os portugueses (afinal sempre aprendi alguma coisa... Além da lição de lá não voltar tão cedo e muito menos durante o Verão).

Um tamanho W32 é equivalente a um 40 em Portugal! Soma-se 8! (obrigado pela explicação Barbie!) Os ingleses devem querer parecer mais magros com números menores eheheheh.

Difícil foi encontrar o número que se quer... Pois em dias como este parece que a única regra de organização que certas partes da loja tem é que não há regras! Trabalhar na Pri... Mark emagrece! Coitadinhos deles! (Está explicado Barbie!) Dos poucos que se aguentam lá, mais tarde a maior parte é destacada como tropa especial para zonas de conflito armado.

Começo então a acumular um molhe de coisa para ir para as masmorras, entenda-se vestiários. Faço uma pilha de roupa no braço direito, sim eu precisava de muuuuuuuuuuuita roupa, e lá vou eu! 8 peças! Não podiam entrar mais (e ainda bem)! Levei tudo de uma vez para não voltar lá... É de longe a etapa que mais me custa.

À porta dos vestiários o rapaz conta-me as peças, dá-me um cartão e lá vou eu a medo... Entro e começo-me logo a rir... Um dos "misters" que lá estava andava a desfilar à frente do espelho grande na parte de fora dos vestiários a ver qual o flow causado pelo seu futuro casaco novo... Tão embebido ele estava, que eu até lhe fiz uma pergunta e ele nem sequer olhou para mim... Lá procurei um vestiário vazio e instalei-me. Pode ser da minha vista mas os cabides que existem nos vestiários parecem nunca ser suficiente para toda a roupa que levamos e para a que temos que tirar. Lá deixo cair a roupa no banquito... E PUMM! O chão treme tal era o peso (não, não fui eu que me descuidei). Do outro lado um rapazolas todo contente a dizer a alguém que já tinha duas camisolas novas! Fiquei feliz por ele! 

Sozinho no vestiário, longe do ambiente de feira, olhei-me ao espelhos "olhos nos olhos", engoli mais uma vez em seco e lá comecei a Odisseia da "experimentação" das 8 peças de roupa... O suor começou-me a emergir na pele... Comecei a sentir-me enclausurado, farto, farto, farto de ali estar... Mas tinha que ser... Descalçar, despir, vestir, calçar, dar voltinha... Looping, looping e looping... Isto vezes oito! Na primeira peça já me estava a surgir a vontade de deixar ali tudo e ir embora... Mas fui firme! Aliás... Com o treino que lá ganhei, a despir e a vestir, estou seriamente a pensar em me alistar como stripper masculino, quiça a coisa pegue...

Experimentadas todas as peças, saio do vestiário com oito peças na mão e vejo um olhar brilhante no lado de fora. Era a minha Mãe! Ao ver-me com tanta roupa quase se emocionou...
"O meu filhinho conseguiu! Comprou roupa finalmente!" Pensou ela (sim eu leio-lhe os pensamentos)
Quando de repente vê que dou as peças quase todas de volta ao rapaz da entrada e aí o pânico instalou-se!
"NÃÃÃÃÃÃÃO!" Gritou ela
Pois é... Só gostei duma e e... Mas como precisava mesmo mesmo mesmo de calças voltei à zona delas e trouxe um molhe sem experimentar... Sabia que ia fazer a minha Mãe muito feliz! E vá... As pessoas já me tinham começado a dar esmola quando me viam com as calças velhas... O que tem de ser tem muita força!

Escolhida a roupa corri para fora da Pri... Mark o mais depressa que pude...(a roupa ficou paga sim!) Precisava de ar puro! Os meus neurónios tinham-se começado a suicidar e acho que durante o tempo que lá estive perdi algumas das minhas recordações de infância... Mas teve que ser!

Depois desta aventura passei a dar muito mais valor aos pobres jovens que lá trabalham... Quase se equiparam a bombeiros na nobreza da sua profissão! São mártires que se sacrificam para terceiros se valorizarem perante o mundo! Um bem haja a todos eles!

Entretanto já estou em casa e a roupa está ali toda embrulhada num saco... A incerteza paira no ar... Será que serve? Será que não serve? Será que fica bem? Opá... Só o tempo (e a minha gente) dirá... Até lá estou em recuperação... Escondi o saco pois o símbolo faz-me sentir coisa estranhas... E desagradáveis :)

Mas uma coisa é certa, quando for grande vou ter que contratar um conselheiro de moda... Eu não dou conta do recado! COMO É POSSÍVEL ISTO SER O PASSATEMPO DE TANTA MULHER? TIA! EXPLICA-ME!

Atenciosamente,
Eu