E eu que fui vindimar à Região Demarcada de Lamas?!

Ora então... Apesar de ser um jovem extremamente atraente, com 1 quarto de século de existência, muitas vezes chamado pela má língua da sociedade: "menino da cidade", inacreditavelmente nunca tinha tido a experiência de vindimar. Não sei o que se passa com os progenitores destes tempos que parece que têm medo de levar os seus filhos para a terra! Tive que encher peito, chegar-me à frente e propor-me como ajudante nas vindimas na região demarcada de Lamas!
Ah pois é... Posso não acordar para ir às aulas a meio da manhã (Pai não leias isto, é mentira), onde apenas tenho que estar sentado de olhos abertos a fingir atenção à aula, mas levanto-me às 6h30 e ofereço-me para ir cortar cachos d'uvas e dar o corpinho ao manifesto! É que nem eu compreendi esta... Bem de manhãzinha chego ao ponto de encontro, ainda em slow motion e já encontro as tropas reunidas cheias de energia, em cimas do blindados prontinhas para ir para a zona de guerra! A carrinha cheia com os posseiros (baldes para as uvas), mais o belo do tractor e lá vamos nós, todos juntos para parecermos muitos, em direcção às vinhas, com um pouco de todo o terreno à mistura! Chegados ao local, depressa todo aquele organismo vivo começa a funcionar! Achei fantástico! Todos já sabiam o que fazer, depressa se espalharam e logo começaram a vindimar. Quer-se dizer... Todos menos eu... Mas o meu amigo lá me deu as instruções e lá me agarrei à minha tesoura de poda (pesada que nem um raio) e começei a cortar tudo o que era redondo! Quanto à tesoura... Pelos vistos existem tesouras próprias para vindimar... Aqui o "menino da cidade" é que foi com uma tesoura de poda de 500kg vindimar toda a manhã, esperto...O que eu não tinha noção era que aquele grupo já era uma espécie de família que todos os anos se juntava para fazer aquilo. Familiares, vizinhos e amigos, sempre com um sorriso nos lábios, ajudam-se uns aos outros todos os anos... Hoje ajudavam nas vindimas dum, "amanhã" ajudam nas do outro... Não pertencendo à família, hoje fui eu o forasteiro! Mas depressa fui identificado e enquadrado como sendo o filho dos coisos, sobrinho daqueles outros e neto dos não sei quem! Depois sim! Já tive liberdade para trabalhar à vontade! No entanto, no meio disto tudo há muita discriminação! Não é que se separam as uvas brancas das de tinto?! Tal e qual o "Apartheid" que houve em tempos na África do Sul! Tiranos! Uma coisa que achei muito peculiar foi toda aquela estratégia no que toca à distribuição e progressão do pessoal pelas vinhas. No início os "patrões" deram as indicações claras acerca de por onde deveríamos cortar... Mas mais a meio da manhã, quando os posseiros começaram a ser demasiados para ir carregando para a carrinha, a linha de comando passou para os soldados do terreno. Fartei-me de rir! Uns diziam: "Vamos todos cortar por aqui!" Os outros: "Mas por aqui é melhor!" Só que eu agarrei-me à filosofia duns terceiros e mais pacifistas: "Pah... Desde que vejam cachos, cortem"! Eu além de cortar os cachos ainda experimentei a mão... Mas dizem que o vinho não fica tão bom! Mas o melhor, melhor, melhor foi a bela da bucha a meio da manhã! Acho que se não se tivesse trabalhado tanto ela não teria sabido tão bem! Aliás... Acho que é a bucha que move os trabalhadores... Qual vindimas qual quê! Depois das energias recarregadas lá se voltou à carga! Ainda com a moleza da bucha mas depressa se retomou o ritmo! Entretanto os posseiros começaram a ficar cheios muito depressa e começou a haver falta deles. Era muita gente a cortar e poucos a alombar com eles cheios para a carrinha. Ainda experimentei levar uns também e aí concluí que sem dúvida esse sim era o trabalho mais pesado lá no meio. Como tal deixei-o para quem sabe eheheheh... Entretanto fui ajudar a descarregar os posseiros da carrinha e a colocar as uvas na máquina para as separar dos cachos e esmagá-las. Eu que até tinha lavado os pés e cortado as unhas, coisa que já não fazia à meses, a pensar que ia pisar as uvas! Snif... Não há direito! As máquinas deviam era andar ao sol por nós a cortar cachos! Não nos deviam tirar o prazer da parte mais gira das vindimas! O meu amigo lá me explicou o processo todo e finalmente fiquei a saber que o vinho não nasce já pronto e engarrafado nas prateleiras do Continente! Com a ajuda que dei acho que consegui repor todo o vinho que consumi até hoje nos jantares da universidade, conseguir assim reduzir a minha "pegada alcoológica" eheheh. No final da manhã já começou a custar mais a vindima por causa do sol mas quando se é movido pela força da bucha do almoço, até se trabalha melhor e mais rápido! Depois de uma manhã de trabalho, lá arrumámos as coisas e fomos ao belo do almoço fazer a prova dos vinhos de anos anteriores eheheheh! E a chanfanazinha que estava maravilhosa?! De facto, nada melhor que um almoço bem recheado com boa disposição à mistura e uma moleza espectacular para terminar a manhã. 

É de facto um trabalho duro mas ao mesmo tempo muito gratificante! Foi uma experiência incrível! Uma primeira vez que não vou esquecer (como qualquer outra primeira vez)! E decerto que vou repetir a curto prazo! Ainda trouxe uvas daquelas docinhas para comer em casa (e uma dor nas costas), o que é que um homem pode querer mais? Obviamente "fugi" da parte da tarde né? Isto da idade já não perdoa, mas quando tiver mais disponibilidade farei um dia inteiro.

Um muito obrigado ao meu amigo e pseudo-engenheiro Marco por me ter proporcionado esta experiência e não te esqueças de me avisar para o ano! (a ver se da próxima não levo calções nem t-shirt das boas)

Bebam muito e não se esqueçam : Até ao lavar dos cestos é vindima!